sábado, 31 de outubro de 2009

Hora de amanhecer



As Horas - Salvador Dali

Chega outubro, novembro, e o mesmo se repete. Andiantar os relógios uma hora. Sinal de que a estação do sol está chegando. The sun, the beaches... As 6 da tarde o sol ainda a pino invade os quartos, quebra as cortinas, deita nos rostos.
O horário de verão me incomoda. De uma forma peculiar, mas incomoda. Parece que ao adiantarmos os ponteiros trazemos com esse gesto algo de sobrenatural, um pó mágico, um agitar de varinhas de condão. Um novo cheiro toma conta do ambiente. Cheiro de terra molhada. Cheiro de calor. Um novo clima de luz , de clarividência. Faz as velhinhas conversarem até tarde nas pracinhas. Faz a gente esquecer que existe a noite. A penumbra perde o tesão.
Minha vida escura enfim começa a ser iluminada e começa a irradiar suas cores ainda tímidas nas palavras. O olhar simulado encontrando enfim alguma verdade. Os vestidos soltos e floridos das meninas a desabrochar em botões de margaridas.
Algo que escrevi no início das minhas frustadas tentativas poéticas. Só agora conseguindo entender a beleza e validade desse frasco de perfume:

Luz
Entra pela janela
Escorre pelos teus olhos

Num estalo
Rasgo as cores em flores
E entro no seu halo

Flutuar com os pássaros
Dançar com os anjos
Vivendo e deixando que traga os sonhos

João Victor