terça-feira, 25 de agosto de 2009

Querido Diário

Aquele beijo molhado
Seu soriso que desvenda
Desvenda meus segredos
Desvenda meu corpo
Descobre minhas fraquezas
Fazem minhas mãos suar
E soa seu brilho
Canta distante
Segue errante
De novo e de volta
E sempre e nunca
Será eterno
Maçã no rosto, maçãs nos lábios
Chuva no rosto, meus lábios nos seus

sábado, 1 de agosto de 2009

A Porta

Minha casa não tem janela. Invés de tijolos, pedras. No lugar de luz, escuridão. Aqui o ar é rarefeito. É preciso respirar fundo para enfrentar as terríveis noites. Terríveis e intermináveis. Só se ouvem o estalo do pingo d’água na pedra gelada, gemidos, ecos, vozes sem dono.
Na minha casa só há uma porta. A porta de saída. As astes de aço refletidas pela chuva. Os vidros. Espelhos para o mundo. Seria aquilo mesmo real?
As cores. Amarelo. Vermelho. Cor púrpura que me paralisa. Quero um vermelho que não seja pecado. Q uero um vermelho velado. Vermelho que não seja sangue. São só imagens. Apenas sonhos. Só conheço um vermelho. Aquele que corre nas veias. De resto tudo é opaco.
Ainda que não seja verdade, quero atravessar o portal. Ver a mentira. Ver o oculto. Tocar o impalpável. Respirar a atmosfera dos pássaros. As pedras impendem minha loucura. Uma voz de acusação. Alguém mais aqui? Claro que não. É apenas meu medo querendo me podar. Detesto minha prudência.
O sol tímido reflete no vitral da minha salvação. É só abrir. Alguns passos. As mãos frias e molhadas pela ansiedade tocam a fechadura. Mais uma vez as pedras sussurram. Será um aviso? As pedras não falam, não seja fraco. A porta se abre sozinha (ou terão sido minhas mãos apressadas?) Meu corpo não me ouve.
Apenas escuto o riso das folhas. Elas me chamam. Dizem meu nome, posso escutar. Os pés vacilam, o vento me empurra. Adeus casa. Adeus pedras. Adeus cinza opaco.
O corpo sente o vento contra si. Já não se meche. Olhos abertos para os últimos segundos. Um pensamento de relance: “Terá valido a pena?!” Apenas um milésimo de susto.
Não quero morrer sem antes ver os pássaros. Sentir o aroma das frutas. O vento contra o rosto. O vermelho que é verdade. O vermelho das maçãs. Não quero morrer com cinza. Quero morte em vermelho. Sangue vivo molhado pela chuva. Reverenciado pelo Sol. Não vou morrer antes do primeiro suspiro. Pelo menos enquanto caio, vejo um chão que não é pedra. E que o homem ao pó da terra retorne.