sábado, 3 de abril de 2010

Enjoo

A barriga parecia ter vida própria. As contrações dimininuíram progressivamente seus intrervalos até atingirem a uniformidade. Uma única dor. O peito já não tinha ar. Os músculos contraídos enquanto o suor descia. A mulher passava e fingia não ver. "Essa menina aí fingindo que está com dor só pra não me ajudar..." - pensava. O ar escapava dos pulmões tão intensamente quanto da panela de pressão. O tique-taque quase mudo assumia níveis ensurdecedores para Ela. Bem que a mãe tinha avisado sobre o chocolate. Branco e preto envolvidos no crime. A culpa era dos pedaços de caramelo. Correu para o banheiro. Há muito tempo que não vomitava. Da última vez ainda não usava sutiã e tinha a chupeta como objeto de adoração. Era mesmo o chocolate. E junto dele os restos do macarrão do jantar. Todo o banheiro estava sujo. Agora Ela ia ter que ajudar na limpeza.
Saiu do banheiro. A mãe passou e olhou a bagunça. Bradou algumas palavras de reprovação que Ela nãe escutou. Deu à mãe a solução para o delito: voltou ao banheiro com vassoura, um pedaço de pano velho e um vidro com um líquido azul.
O estômago ainda doía, mas Ela bravamente resistia com esfrogões no chão e mordidas no lábio. Mas não se arrependia. Afinal, os doces eram presentes dEle. Ela parou um instante para respirar. Já não aguentava mais as contrações. Sentou no chão molhado e começou a suspirar olhando para o céu azul turquesa entre a janela apertada do banheiro. "Ah, Ele é tão atencioso, tão carinhoso..." - sussurava baixinho. A causa do enjoo era a mesma do suspiro.
- Menina! Está parada porque, hein?! Não viu que ainda está sujo! - gritava a mãe.
Ela fez uma careta secreta aos olhos da mãe e voltou ao trabalho.
- Já até sei. Deve estar pensando naquele menino. Já disse pra você tomar cuidado, menina. Esses meninos são terríveis. Eu já fui adolescente... Meninos dessa idade não querem nada sério. Toma cuidado menina.
Foi aí que Ela teve um susto. Um susto que interrompeu as dores por um instante. As palavras da mãe já eram conhecidas por ela. Mas dessa vez, as circunstâncias eram outras. O enjoo. Ela, então, lembrou do rosto dEle naquela noite. Ele a transmitia segurança e suas palavras começaram a resoar na mente dEla: "Você não vai engravidar... Eu sei o que estou fazendo." Bem que a mãe tinha avisado sobre o menino. Mas não tinha avisado sobre a camisinha. Ele e Ela envolvidos. A culpa era da imprudência? Do impulso da juventude? O fato era que a prova estava ali na frente dela, gosmenta e suja, escorrendo entre os ladrilhos do banheiro.

4 comentarios:

Tainá disse...

ótimo, John!! muito bom!!

muito visual e cheio de sensações.. da nausea à surpresa! parabéns!

Joel Vieira disse...

Um alerta para jovens que se deixam iludir. Camisinha sempre! hehe

bom texto!

Joel Vieira disse...

Obrigado pela visita no Faces, se tiver gostado sinta-se bem vindo para voltar mais vezes!

Abraços !

Joel Vieira disse...

Comentario respondido em meu blog!
Abraços e otima tarde!