quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Manifesto Patriótico



Minha terra tem palmeiras,
 Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Gonçalves Dias. Canção do Exílio

Exaltar o verde-louro latino. A conquista de heróis. As medalhas do passado.. Isso é falar de pátria?
O país que não para de crescer. O ufanismo nacionalista. A defesa das nossas terras. Isso é ser patriota?
Afinal, que heróis? Temos por acaso heróis nessa pátria? Os Pedros príncipes? Não. Os marechais e generais que a mão de ferro subjugaram o país? Não
E que medalhas do passado? A fome e a pobreza histórica? O preconceito racial? A sucessão de injustiças a que os cidadãos passam?
E enfim, que terras? Será o Brasil a nossa terra? Essa terra que, em mãos de poucos, perde seu valor social e serve apenas ao Rei Lucro? Essa terra que é tomada de nossa gente por grande latifundiários?
Que Brasil?
Que pátria?
Não viemos aqui homenagear essa pátria.
Não viemos condecorá-la com Honrarias de araque.
Falaremos de outra pátria.
A pátria do samba.
A pátria dos morros.
A pátria do sertanejo.
O Brasil amazônico.
O Brasil de bombachas.
Pra nós essa é a pátria que merece homenagens. É o nosso Brasil, que mesmo com inúmeros problemas e adversidades é o lugar feito especialmente pra nós.
É o lugar onde podemos chamar de lar. É onde nos sentimos acolhidos pelos sorrisos abertos e pelo abraço apertado.
Não queremos exaltar o Brasil pela sua grandeza continental ou expressão econômica.
Mas sim pela grandeza de seu povo. Pela determinação da nossa gente. Pela vibração nos estádios de futebol. Pela felicidade em época de carnaval. E fora dela. Pela alegria em nossas praias, nas nossas cidades, em nossas favelas.
Não ao Brasil-Estado. Não ao Brasil de Vargas, dos generais, ou ao país de Lula. Mas sim exaltamos aos verdadeiros filhos desse país. Filhos que tem sim uma mãe gentil, mas que muitas vezes maltratada por bastardos.
Não ao Brasil-empresa, que mantém seu PIB crescendo em detrimento de milhares de famintos. Mas sim ao grande e diverso prato de comida que é o nosso país. Ao colorido dos pássaros. Ao colorido da criança. Ao colorido das festas de frevo.
Não ao Brasil-cartão-postal do Cristo Redentor e das praias nordestinas. Mas sim ao país que alcança sua redenção nos corações pulsantes do seu povo.
E enfim, não ao Brasil-“pacífico e ordeiro”. Não ao povo que se cala. Mas sim a multidão que vai pra rua. Que protesta no twitter. Que está cansada dos monstros profanos da política brasileira.
Para além de um discurso clichê, falar sobre nossa pátria é saudar nossos compatriotas.
Porque o país com que sonhamos é aquele que construímos.
Salve o futuro do Brasil, que hoje leva suas novas asas para casa.
Salve um Brasil além das palmeiras e dos sabiás. Além das aves que gorjeiam.
Porque hoje não gorjeiam apenas aves. Hoje quem grita somos nós.
Hoje não voam apenas sabiás. Mas sonhos de uma juventude com fome de atitudes.
Hoje não apenas palmeiras enfeitam nossa paisagem. Um multicolorido extravasa pelas fronteiras do país.
Essa antropofagia tupiniquim.
Esse lugar definido pela indefinição.
Esse lugar que é um não-lugar
Lugar de todas as culturas que ao mesmo tempo forja sua própria peculiaridade.
E são essas particularidades que fazem daqui o nosso lugar.


Discurso em Homenagem à Pátria da minha colação de grau no Pedro II =) . O texto leva a autoria de Julia Nevares, Tainá Lopes e a minha né... João Victor Barbosa

2 comentarios:

Iasmin Marequito disse...

Genial! Geniaal! Esse texto ficou perfeito. e " Hoje quem grita somos nós." Lindo, lindo! Parabéns aos 3. [detalhe: único discurso aplaudido de pé] ;) beijooo

Usui de Itamaracá disse...

Gente, o discurso perfeito *.*
Vcs deviam ter visto a cara de Alex de orgulho rs
Mandaram muito bem, parabéns pela genialidade!